A temida dor de cabeça após raquianestesia…
É de senso comum que a raquianestesia, técnica anestésica empregada para cirurgias de abdome e membros inferiores, provoca dor de cabeça. Muitos pacientes relatam que após algum tipo de cirurgia, iniciou-se uma dor de cabeça muito forte – o que muitas vezes gera inclusive repúdio a essa técnica. Ou então, estabelecem a relação de que, se levantarem a cabeça após a anestesia, terão cefaléia.
Esse tipo de cefaléia (CPR) ocorre por uma alteração de pressão no líquido cefalorraquiano, conhecido como líquor. Essa substância está presente por todo nosso sistema nervoso central, banhando as estruturas cerebrais e descendo, como uma coluna d’água, pela nossa medula, protegida pela coluna vertebral.
A técnica conhecida como raquianestesia consiste em injetar a solução anestésica no líquor, por onde ela circulará banhando os nervos e promovendo a anestesia e analgesia necessárias. O acesso a esse fluído se dá utilizando uma agulha, muito fina, por entre as vértebras, que como tijolos sobrepostos, compõem a coluna vertebral.
A cefaléia relacionada a este tipo de punção ocorre quando esse fluído fica vazando, como uma torneira aberta, diminuindo a pressão que ele exerceria se estivesse em quantidade suficiente ao redor das estruturas cerebrais. Parece complexo de entender, mas imagine que o líquor banha as estruturas cerebrais, como se o crânio fosse uma caixa d’água, com um tubo que desce para a coluna. Quando há uma alteração na pressão desse líquido, o cérebro sente e responde com dor.
Alguns fatores predispõem o surgimento da CPR, como história prévia de enxaqueca, dificuldade na punção anestésica (múltiplas punções), calibre da agulha utilizada, idade do paciente (mais comum em mulheres na fase adulta jovem), gestação e qualquer tipo de dor crônica prévia.
Essa dor tem características bem específicas, surgindo quando o paciente senta ou levanta – o que é lógico de se imaginar, já que nesses momentos a coluna de líquido (o líquor), por ação da gravidade, esvazia a caixa d’água.
É importante dizer que é uma cefaléia benigna!! Tem duração limitada, geralmente de 7-10 dias. Isso porque o próprio corpo é capaz de repor esse fluído perdido, aumentando sua produção.
Por esse motivo, geralmente opta-se pelo tratamento conservador, no qual realiza-se uma hidratação vigorosa com fluídos endovenosos, o tratamento mais efetivo. Podem ser utilizados também analgésicos simples de horário, derivados de cafeína e bloqueio do gânglio esfenopalatino. Neste momento, é recomendado que o paciente permaneça deitado, já que nessa posição, a dor não será desencadeada.
Em casos mais graves e refratários, pode-se optar pela realização de um procedimento conhecido como blood patch, realizado em ambiente cirúrgico, por dois anestesistas treinados em conjunto, no qual retira-se sangue de uma veia do paciente e, pela técnica peridural, injeta-se uma quantidade suficiente para “estancar o vazamento” de líquor. É uma técnica estéril e não isenta de riscos, como qualquer procedimento anestésico. Por isso, geralmente é indicada apenas após falha do tratamento clínico.
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